sexta-feira, agosto 26, 2005

quem está a queimar Portugal?


Será que o Presidente da República pode ser um espectador mais do trágico espectáculo anual dos fogos florestais em Portugal? Será que o problema se deve exclusivamente ou em primeira instância aos proprietários que não limpam as suas matas, tal como faz o próprio Estado em muitas Matas Nacionais? Será que é realista esperar uma resposta desgarrada de cada proprietário florestal (a maioria com pequenas matas dispersas, algumas inacessíveis ou de localização indeterminada...) ou deve o poder central empenhar-se corajosa e decididamente numa política de re-emparcelamento real ou virtual, enquadrada por regulamentação legal há tanto tempo por aprovar? E por que não organizar brigadas de limpeza das florestas e de apoio ao combate aos fogos com... incendiários a cumprir pena – fazendo depender a “redução de pena por bom comportamento” da colaboração nestas tarefas? E apostar na adaptação de forças e equipamentos militares à “guerra interna” ao fogo na nossa floresta; e apostar em tecnologias inovadoras como a vigilância electrónica da floresta; e apostar na passagem à prática de tantos estudos e diagnósticos elaborados por equipas de especialistas e investigadores ao longo de anos.

O que pode o Presidente da República fazer com os poderes que tem? Uma vez mais não é uma questão dos poderes mas de atitude que aqui se coloca - de atitude, de motivação e mobilização da sociedade através do exemplo vindo de cima. E aí o presidente pode arregaçar mangas e desafiar o país para um “dia do cadastro geográfico” no qual os proprietários de cada freguesia se juntem para percorrer as suas matas e marcar com GPS os seus marcos. E, claro, ir ele próprio com os engenheiros florestais do Estado marcar uma Mata Nacional. E pode até recusar-se recandidatar-se se o país político não seguir o seu exemplo reformando o que tem se der reformado no enquadramento legal. Se não estiver com os 80 anos à porta e o cardiologista a recomendar-lhe repouso, pode até aventurar-se a propôr uma outra campanha – o “Dia da Limpeza da Floresta” – e, como os outros cidadãos, passar ele próprio todo o dia (não os breves 30 segundos dos directos televisivos) de enxada e segadeira a roçar mato... Será ridículo ou sequer risível dar um exemplo de trabalho? Não. Rídiculo é ficar-se atrás de uma secretária a pedir relatórios das matas e casas ardidas, passear-se de helicóptero depois dos fogos sobre as àreas ardidas e desfazer-se em detalhadas explicações à comunicação social sobre (velhas) soluções a aplicar... para o ano.


O problema dos fogos, mesmo em climas mediterrânicos como o nosso, tem solução – assim haja a coragem de enfrentar interesses instalados e a natural resistência à mudança. A Grécia tem cerca de um sétimo da incidência de Portugal. A Galiza praticamente resolveu-o do dia para a noite quando em 1990 o recém-eleito Presidente da “Xunta de Galicia” Manuel Fraga Iribarne montou o seu plano Infoga. Talvez o problema dos fogos florestais em Portugal não seja tanto devido aos pirómanos, que os há em todo o lado, ou a sinistros interesses imobiliários, eleitorais ou industriais, que também os há por todo o lado, mas antes à falta de políticos destes.

Porém, do mundo dos autómatos insistem connosco que não há homens ou ideias providenciais...