terça-feira, março 07, 2006

Liberdade de expressão = direito de insultar?

Factos: um ilustrador Dinamarquês desenhou-as, um jornal publicou-as, o público viu-as, o mundo islâmico condenou-as e o mundo tremeu uma vez mais. Depois de muita tinta e algum sangue correr e (quase) tudo ter sido dito e escrito, em que ficamos?

Do lado ocidental paira uma sensação incómoda de que a alternativa é entre o medo e a coragem. O mesmo medo que, diante de qualquer acto de terrorismo islâmico, tem levado muitos a não saír do casulo da auto-flagelação ocidental, sustentando que em última análise o responsável é sempre o próprio ocidente. E a coragem, bem entendido, está toda do lado de quem dá o peito às balas e a empresa às bombas, como oferenda aos deuses laicos da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão.

Mas será este o único enquadramento possível para a questão em apreço? As numerosas e constantes manipulações da verdade informativa, a quotidiana subordinação do interesse jornalístico a outros, por essas redacções afora, não deveriam refrear o entusiasmo prosélito de quantos pretendem levantar laicos altares a supostos valores absolutos, por outros ou por eles mesmos diariamente pisados no ocidente? Deus, o Verdadeiro, nos livre da divinização dogmática das "liberdades de imprensa" sem responsabilidade e sem pejo de infundadamente enlamear este nome, crucificar aquele na praça pública, deixar falar A e silenciar B. Foram esses, os alegres e despreocupados abusadores da "liberdade de expressão", os mesmos que hoje clamam aos céus que o silêncio pesado da sociedade atrairá o fim do mundo ocidental tal como o conhecemos - com imprensa corrupta, mistificadora e muitas vezes arbitrariamente censória.

Ensinaram-me que a violência toma muitas formas e é, por princípio, sempre condenável. Publicar caricaturas como aquelas ou as que sabeis contra o grande Papa João Paulo II, é uma violência contra mim. Ofende-me mesmo mais do que um qualquer insulto só contra mim. Custa aceitar isto? Hoje não se pode dar um leve encontrão no autocarro sem pedir logo desculpa, mas por outro lado pode-se insultar toda uma comunidade espiritual sem o mínimo problema, em nome do deus da liberdade de expressão, do direito de insultar.

É claro que uns reagem mais do que outros. É claro que os cristãos estão talvez mais habituados à cruz e ao enxovalho. Talvez não devessem mas o facto é que estão. Do lado do islão muitos não se resignam - respondem e logo metem tudo no mesmo saco. O autor, os nórdicos todos, os cristãos em geral e desata-se a queimar igrejas e embaixadas. Assim se começam guerras, quando se esquece que do lado de cá ainda restam alguns sem medo... e que só esperam uma oportunidade para devolver à proveniência "les arabes"...